Texto de..:: Renato Marchesini
Quando comecei a refletir sobre soluções econômicas e estratégias de desenvolvimento turístico para qualquer cidade, percebi que a necessidade quase primordial parecia sempre girar em torno de atrair visitantes de outras localidades. A questão central era: como fazer com que essas pessoas se deslocassem até o município e, sobretudo, como estimular que gastassem ali, movimentando a economia local?
Anos depois, após vivenciar experiências em diversos segmentos do Turismo, gastronomia, hospedagem, sítios de eventos, festas e até programas de televisão voltados ao setor — compreendi que o verdadeiro sucesso turístico de um município está menos ligado à infraestrutura e às obras, e muito mais à cumplicidade e ao orgulho que seus habitantes compartilham em torno de uma história, tradição ou lenda local.
Conta-se, por exemplo, que um palestrante, ao visitar Varginha (MG), ao desembarcar e pegar um táxi, resolveu puxar conversa com o motorista:
— Amigo, é verdade que aqui houve a visita de ETs? O motorista respondeu sem hesitar: — Rapaz, não só houve como muitos ainda vivem entre nós até hoje.
Intrigado, o palestrante insistiu:
— Sério? E o motorista completou: — É sério mesmo. Ontem, inclusive, faleceu um na área rural, e hoje o velório está cheio de ETs reunidos.
Divertido com a situação, o palestrante pediu:
— Você me levaria lá? Gostaria de prestar minhas homenagens. Com toda solenidade, o motorista respondeu: — Vou ligar para a família e pedir permissão. Se autorizarem, levo o senhor.
Após a ligação, veio a resposta:
— A família ficou comovida com seu interesse e solidariedade, mas preferiu manter esse momento reservado aos mais próximos. No entanto, já o convidou para visitá-los em outra ocasião.
Se essa história é verdadeira ou não, jamais saberemos. Assim como a existência do famoso “ET de Varginha” permanece incerta. O fato é que a narrativa se consolidou no imaginário popular e a cidade soube aproveitar esse mito, transformando-o em um dos pilares de seu turismo.
Não pretendo aqui me aprofundar em questões políticas ou em políticas públicas, o que seria desnecessário. O que importa é destacar o aspecto social e psicológico do turismo: um destino de sucesso precisa transformar o seu entorno. Caso contrário, será sufocado por ele.



