
O novo Plano Diretor de Santos, em discussão na Câmara, prevê o retorno oficial do bairro, propondo a divisão do Valongo em duas áreas: o Bairro Chinês ficaria localizado dos sopés dos morros São Bento, Pacheco e Penha até a Avenida Getúlio Vargas, entre a Rua São Bento e o bairro do Saboó. “Muitos santistas lembram do Bairro Chinês. Mesmo com o nome antigo em desuso, a simples lembrança é significativa para a identificação da população que morou ali. Hoje, esse bairro só existe mesmo na memória de alguns”, relata o vereador Odair Gonzalez, autor do projeto.
Olhos puxados
Casarões antigos, estação ferroviária, contêineres e santuários da fé. Quem anda pelas ruas do Valongo se depara com um cenário que contrasta entre o passado e o presente. Certamente, muitas pessoas não sabem que o local era conhecido como Bairro Chinês, até a década de 1970.
A denominação remonta o período em que imigrantes japoneses construíram chácaras naquela região. Como os orientais tinham olhos rasgados, foram confundidos com chineses -daí o nome.
O bairro também abrigou uma legião de imigrantes espanhóis e portugueses, além de nordestinos, que chegavam para trabalhar no porto. Aos poucos, o comércio ganhou fôlego e foram construídos açougues, padarias, farmácias, quitandas e vendas de secos e molhados.

A trupe carnavalesca vestia o manto da alegria e promovia muitas brincadeiras nas ruas do Centro. Depois das 21 horas, os blocos e escolas levavam a festa para outros pontos da Cidade até chegar à praia. “A grande estrela do carnaval era o Pescadinha, que foi um dos dançarinos mais importantes da noite santista”.
Já o cinema funcionava em uma sala apertada da Rua São Bento, cheia de bancos de madeira. Como o chão era todo no mesmo nível, quem se sentava atrás não conseguia ver nada e ainda saía com dor no pescoço.
Mesmo assim, as sessões de domingo provocavam um verdadeiro frisson na comunidade, quando eram apresentados dois seriados, desenhos e dois longas-metragens.
Mas o cotidiano do bairro Chinês era parecido com a vida na cidade do interior, onde todas as pessoas se conhecem e ajudam ao vizinho nos momentos de necessidade. “Você comprava o produto na padaria e deixava anotado na caderneta. No final do mês, havia o acerto de contas e ninguém dava calote”.
Apesar disso, a região sofreu com a crise econômica, provocada pela Segunda Guerra Mundial. Com a escassez de produtos, os moradores formavam filas gigantes no comércio para garantir o estoque de alimentos até o final do mês. O desemprego também abateu parte dos moradores e provocou um clima de incertezas no local. “A molecada invadia os armazéns de café e roubava os grãos para vender nas torrefações. Faziam isso para comprar comida. Uma parte subia o morro com saco de café nas costas, enquanto outros garotos cuidavam para ver se não tinha policia”.
Após esse período, o bairro passou por um processo de desvalorização. As famílias ricas deixaram o local e construíram moradias no Macuco, Campo Grande e Marapé. Quando a Cidade sofreu intervenção do regime militar, o nome do bairro foi riscado do mapa e a área foi cedida ao Valongo.


