Turismo de observação de aves ganha força no Brasil

Muito comum em países como Estados Unidos e
Inglaterra, prática possibilita a descoberta de espécies raras e
contribui para preservação ambiental

Por..:: Alfredo Fredrizzi
Observar aves. Uma atividade que existe há muitos anos em países como
Estados Unidos e Inglaterra e está ganhando força no Brasil, para onde
estrangeiros vêm com muita regularidade. Só na Inglaterra, os clubes de
observadores de aves reúnem mais de 1 milhão de associados. Esses grupos
conseguem interferir politicamente em muitas coisas.
Foto de..:: Renato Marchesini
Foi no Rio
Grande do Sul que, em 1974, surgiu o primeiro Clube dos Observadores de
Aves (COA) no Brasil, fundado pelo americano William Belton, quando foi
cônsul em Porto Alegre. Além desse, existem pelo menos mais dois clubes
no Estado, em Santa Maria e Santo Ângelo.

Além da observação, as
pessoas que se dedicam a isso contribuem muito com a preservação
ambiental, o registro de espécies ameaçadas e a catalogação de aves
raras. Os participantes têm profissões tão diferentes como engenheiros,
empresários, biólogos, bancários e professores.

Um dos líderes do
movimento é o ornitólogo Glayson Bencke, do Museu de Ciências Naturais
da Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul. Ele se dedica há 30 anos
às aves e sua meta é publicar um completo guia de aves do Rio Grande do
Sul, onde existem 665 espécies diferentes já identificadas.

A busca por espécies raras
O
COA de Porto Alegre organiza em torno de 10 viagens por ano, com
duração de um a quatro dias, para seus cerca de cem associados. A última
foi ao Parque Estadual do Turvo, no município de Derrubadas, no
noroeste gaúcho. O parque tem 17.492 hectares e uma mata exuberante com
as árvores mais altas do Estado.

É a mais importante reserva do
Rio Grande do Sul pela diversidade e por ser ponto de pouso de muitos
animas migratórios. Dentro do Turvo está o Salto do Yucumã, o salto
longitudinal mais longo do mundo, com 1,8 mil metros de extensão.

O
COA sempre leva alguns convidados em suas viagens. E nem todos são
especialistas em aves, como a bióloga Nathália Rocha Matias, que estuda
serpentes (neste momento, foca na “termorregulação da anfisbena, uma
cobra cega”). Pergunto-lhe por que acompanhar o pessoal das aves? A
resposta vem imediata:

– Por dois motivos: conhecer esse incrível Parque do Turvo e para tentar encontrar algumas espécies que só vejo em serpentários.

Durante uma das caminhadas no Turvo, o grupo encontrou uma jaguatirica grande, que roubou a cena. Todos ficaram excitadíssimos.

Menos o ornitólogo Bencke:

– Sempre que surge um mamífero, é concorrência desleal – brinca ele, pois a atenção de todos se concentra nisso.

Igual
interesse causaram os macacos-prego, o esquilo, o tapiti (pequeno
coelho nativo), o quati ou as cobras – uma coral e outra caninana –, que
foram encontrados nas trilhas.

As descobertas
 Com
23 pessoas, o grupo avistou, ouviu e fotografou 185 espécies diferentes
de aves nos quatro dias dessa saída a campo, motivo de grande
satisfação para todos. Algumas delas ameaçadas de extinção, como o
pica-pau-de-cara-canela, o bico-de-pimenta, o macuco, a tietinga ou o
bacurau-rabo-de-seda.

Mas existem outras aves com nomes
estranhíssimos, como vira-bosta, bico-chato-de-orelha-preta,
limpa-folha-ocráceo, gente-de-fora-vem, marreca-pés-na-bunda,
limpa-folha-de- testa-baia, balança-rabo-leitoso, chocão-carijó,
beija-flor-rabo-branco-de-garganta-rajada ou benedito-de-testa-amarela.

A felicidade total do grupo vem quando se vê ou se ouve o canto de uma ave difícil de achar.


Só por esse valeu o dia! – diz a empresária Helena Backes, que dedica
várias horas por dia a estudar e classificar as aves que encontra.

Helena
começou há pouco tempo esse hobby, mas já se equipou toda – binóculo,
câmera Canon e lente 500 mm – para fotografar as aves mais distantes.

– Mais um pica-pau para a coleção! – vibra ela, com os olhos brilhando.


para o ornitólogo Glayson Bencke, considerado o mais experiente do
Estado, o prazer é outro. Sua satisfação era grande quando simplesmente
conseguiu gravar o canto de uma iraúna-grande:

– Foi uma oportunidade rara. Agora, mais pessoas vão poder conhecer o canto dessa espécie, difícil de se ouvir!

É preciso pesquisar para educar o ouvido
Bencke
explica que cada ave pode ter até 14 vozes diferentes. Por isso, a
necessidade de “educar o ouvido”, ouvindo, gravando, consultando sites
ou baixando aplicativos da internet, como o Birds of Brazil, que reúne
desenhos, fotos, cantos e localização de quase todas as aves
brasileiras. Mesmo com o nome em inglês, o aplicativo é brasileiro.
Outra opção é o portal de compartilhamento de sons e fotos Wikiaves,
espécie de enciclopédia de aves do Brasil, quem tem mais de mil usuários
regulares cadastrados no Estado.

Atividade crescente
Na
Inglaterra, onde tudo começou, existem mais de 1 milhão de observadores
de aves. Organizados, eles são consultados por autoridades sobre
projetos ambientais e arquitetônicos. Nos Estados Unidos, país que conta
com a maior quantidade de “birdwatchers” do mundo, eles são ouvidos até
para saber qual é o impacto que altos prédios podem causar nas aves.

No
Rio Grande do Sul, a atividade envolve mais de mil pessoas, entre
observadores, fotógrafos amadores e estudiosos, além de cerca de 30
ornitólogos.

O próximo projeto, em gestação, é editar um guia completo das aves do Estado.

Saiba mais
– Cinema: The Big Year, comédia com Steve Martin
– Aplicativo para smarthphones: birds of Brazil
– Portal: Wikeaves (www.wikiaves.com.br)
– Redes sociais: www.facebook.com/coa.poa.9
Os observadores
– As aves não são os únicos a serem observados de perto. Confira outros focos dos observadores:
– Baleias, golfinhos e ursos, entre outros animais
– Flores e plantas
– Estrelas
– Paisagens
Paisagem sonora
Para se tornar um especialista em aves, ensina Glayson Bencke, é
necessário persistência, disciplina, curiosidade, bom ouvido e bom olho,
além de 10 anos de dedicação. Mas muita gente quer apenas conhecer os
animais e estar junto à natureza, onde há uma “paisagem sonora muito
rica”.

No início e no final do dia, a variedade de sons é
impressionante. E cada um é imediatamente identificado. Nesse momento,
cabeças se voltam para o alto, tentando descobrir a direção, binóculos
em punho. Assim que é localizada a ave, muitas câmeras fotográficas
disparam incessantemente. Prazer estampado no rosto para ver quem pegou o
melhor ângulo daquele beija-flor raro, na copa de uma árvore.

Muitas
vezes durante a viagem, quando ouve determinado tipo de canto raro,
Bencke faz um teste com principiantes ou estudantes de biologia que o
acompanham: “que canto é esse?”. Quando o questionado vacila em
responder a um som já ouvido antes, ele dá um puxão de orelhas: “falta a
cicatriz”, que é memorizar cada som de cada ave.

E para atrair
os animais para mais perto, Bencke se vale da tecnologia: usa um
gravador para registrar o canto e o reproduz instantaneamente. Outros se
valem de aplicativos de smartphones, com cantos gravados. Com isso,
muitos animais chegam mais perto, e o prazer é redobrado.

Ameaça constante
Além
dos desmatamentos, a construção de usinas, que alagam grandes regiões, é
uma constante ameaça aos animais. No Parque do Turvo, contam os
guarda-parques, a construção de novas hidrelétricas na região pode
alagar 10% da reserva. A de Panambi é a maior ameaça. A última que foi
construída já afeta diretamente aquele que, para algumas pessoas, é o
mais bonito – e desconhecido por muita gente – cartão-postal gaúcho: o
Salto de Yucumã, na fronteira com a Argentina.

Diariamente o
volume das águas cresce, encobrindo completamente o salto. Depois de
algumas horas, as águas baixam repentinamente, matando peixes que ficam
presos em buraco de pedras. Além disso, com novas hidrelétricas, o Rio
Uruguai deve ficar mais largo, impedindo onças e antas de atravessar da
Argentina para o parque brasileiro, como fazem hoje. E novas
hidrelétricas estão programadas para o rio.

Fonte..:: Zero Hora
(ecoturismo, papo de biologia)
A R9 Turismo trabalha com roteiros de Observações de Aves
Saiba mais ..:: www.r9turismo.com

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