Na prática, isso significa que o pediatra homeopata pode prescrever medicação à base de café para tratar um bebê de um ano, muito sensível a barulhos, que acorda à noite com muita frequência, sempre chorando. “Como o café tira o sono de quem o ingere à noite, é sempre indicado para pessoas que precisam ficar acordadas. Mas, quando preparado homeopaticamente diminui a insônia”, explica Sergio Eiji Furuta, diretor da Associação Médica Homeopática Brasileira e da Associação Paulista de Homeopatia, que se dedica a pesquisar o tema na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Especialidade reconhecida no país há mais de 30 anos pelo Conselho Federal de Medicina e pela Associação Médica Brasileira, oferecida inclusive em alguns ambulatórios mantidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS), a homeopatia é, ao mesmo tempo, alvo de ceticismo e alternativa terapêutica – e não terapêutica alternativa – interessante para muitos que não encontraram na medicina convencional a solução para problemas como enurese noturna, medos e fobias, episódios repetidos de infecções, alergias e distúrbios de comportamento e do sono, entre outros.
“A homeopatia é um meio suave para o restabelecimento da saúde, que utiliza a capacidade de reorganização do nosso organismo ao estimular a sua energia vital, responsável pela vida e pelo equilíbrio orgânico”, afirma a pediatra Rosana Mara Ceribelli Nechar, vice-presidente da regional sul da Associação Médica Homeopática Brasileira, no Paraná. “A pediatria homeopática proporciona à criança menor suscetibilidade a doenças comuns, como gripes, otites, faringites, sinusites, amigdalites, laringites, bronquites e outras ´ites´ que, quando surgem repetidamente, sinalizam o enfraquecimento da energia vital. Como é um ser em desenvolvimento, a criança pode ter todas as suas potencialidades estimuladas e crescer de forma saudável e menos suscetível a doenças”.
Como é a consulta?
Os especialistas afirmam que a manifestação clínica de toda doença tem que ser abordada também do ponto de vista emocional e psíquico. E lembram, para validar suas convicções, que a gripe, cujo vírus já pode até estar alojado na garganta, se manifesta sempre numa situação de estresse. É por isso que o tempo de uma consulta pode chegar a duas horas, momento em que o médico estuda a maneira de ser, de sofrer e de adoecer de seu paciente, tenha ele a idade que tiver. E se o paciente tiver poucos dias, poucas semanas de vida, os relatos precisos e detalhados da mãe são fundamentais. Consultas de retorno também podem levar mais de uma hora nos casos em que a resposta ao tratamento não é a esperada. “O homeopata tem que reformular suas hipóteses, ajustar o remédio. Às vezes tem que perguntar tudo novamente”, aponta Marcus Zulian Teixeira. Como os alopatas, os homeopatas também solicitam exames laboratoriais e de imagem sempre que necessário para diagnosticar alguma doença.
Medicamentos individualizados
Não existe versão ‘pediátrica’ entre os homeopáticos. São prescritos para as crianças os mesmos receitados para os adultos, em forma de gotas ou glóbulos feitos com lactose. Cerca de 70% dos medicamentos são de origem vegetal e os outros 30% de origem mineral ou animal. Na farmácia, plantas, pedras e fragmentos animais são triturados, macerados e diluídos em 99 partes de uma solução alcoólica que é agitada cem vezes. Em seguida, essa substância é novamente diluída em outras 99 partes de água e álcool e agitada. As diluições vão se repetindo conforme a potência desejada para o remédio. Quanto mais diluída, é considerada mais potente. “Alguns remédios são preparados a partir de plantas venenosas ou de metais tóxicos, como o mercúrio, que graças à ultradiluição perdem a característica nociva”, garante Teixeira. A partir da décima segunda diluição já não há mais a presença de resíduos da substância ativa, o que respalda os críticos da homeopatia. Segundo muitos, o remédio não passa de água pura. No entanto, segundo os homeopatas, é a física, e não a química, que explica o efeito do remédio. Os movimentos da dinamização, que podem passar de 1 000 em algumas formulações, alteram as moléculas da água que passam a preservar apenas a ‘informação’ do princípio ativo que vai reorganizar o organismo.
Ainda não se pode dizer que esse mecanismo tenha sido confirmado cientificamente, mas, diga-se de passagem, a alteração molecular da água foi confirmada nos Estados Unidos em 1998. Ao pesquisar o comportamento das moléculas da água, um cientista do Instituto de Tecnologia da Califórnia, Shui Yin Lo, constatou que tais moléculas, normalmente espalhadas desordenadamente, adquiriram a forma de ‘cachos’, com campo elétrico singular, adesão firme a superfícies e que se replicavam a cada nova diluição mesmo quando já não havia mais sinais da substância adicionada no começo do experimento. Há 10 anos, outro estudo, na Universidade da Califórnia, constatou que a tal água com cachos moleculares seria mesmo capaz de estimular células do sistema imunológico, em tubos de ensaio, até 100 vezes mais do que água pura.
Pode vacinar?
A homeopata Rosana Nechar afirma que há indícios de que o início precoce da estimulação imunológica nos bebês esteja relacionado ao aumento da incidência das alergias, o que traz como consequências maior frequência de reações alérgicas do que há alguns anos. “Mas não há dúvida de que as vacinas fazem parte de um avanço na história da medicina e na profilaxia de doenças graves”, afirma.
E as vitaminas?
Acompanhamento
Assim como na pediatria convencional, o acompanhamento homeopático acontece mensalmente no primeiro ano de vida, quando o especialista acompanha também o desenvolvimento do peso e da estatura da criança e orienta a mãe sobre as mudanças que vão sendo introduzidas na dieta do bebê. Essas consultas acontecem também conforme a criança apresenta as características, que nem sempre sinalizam doenças. Há casos de distúrbios do sono, irritação ou medo do escuro. “Tem bebê que acorda quando se apaga a luz. O escuro o incomoda, traz alguma ansiedade, medo. E isso tudo tem que ser levado em conta”, lembra Marcus Zulian Teixeira.
Segundo os especialistas, a mudança para um pediatra homeopata é possível e tranquila desde que haja motivação, boa vontade e confiança. Uma dica é procurar profissional com título de especialista em Pediatria e Homeopatia reconhecido pela Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina.
Limitações
E embora a prática mostre que a homeopática reduz a necessidade de recorrer sempre aos medicamentos alopáticos, inclusive antibióticos, anti-inflamatórios e anti-histamínicos devido à reorganização de todo o sistema orgânico, há limitações. Uma meningite bacteriana, por exemplo, exige diagnóstico rápido e tratamento adequado. “Nos casos de infecção, é importantíssimo o pediatra homeopata entrar com a terapia à base de antibiótico assim que necessário”, diz Furuta. “O homeopata deve conhecer a antibioticoterapia tanto quanto um médico alopata, para não colocar em risco a vida do paciente.”
Apesar das polêmicas, os especialistas são unânimes em relação aos benefícios do tratamento individualizado que equilibra a saúde orgânica e emocional da criança, que tem tudo para torná-la menos suscetível a infecções. “Uma criança tratada desde pequena pela homeopatia adoece menos do ponto de vista orgânico, necessitando pouco dos remédios tradicionais. Também são beneficiadas do ponto de vista emocional. São mais tranquilas, alegres, se socializam com mais facilidade e o desempenho escolar é melhor”, afirma Sergio Eiji Furuta. Sem dúvida, tudo o que os pais buscam para os seus filhos.
Fonte..:: Bebê Abril
(planeta criança, recicle suas idéias)



