Na obra, os “green buildings” (“edifícios verdes”) e as listas de soluções e materiais “green” (“verdes”), retratados cotidianamente como a solução de todos os problemas, são substituídos por uma visão mais complexa e sistêmica das implicações e desafios políticos, organizacionais e tecnológicos, para transformar o que é certamente um dos setores econômicos mais conservadores no Brasil.
Apoiado no tripé economia-sociedade-ambiente e em um histórico dos conceitos e do movimento de construção sustentável global e no Brasil, o livro se dedica a temas que estão fora da agenda convencional. O capítulo sobre mudanças climáticas, por exemplo, revela que no Brasil a contribuição da construção para o aquecimento global é menor e muito diferente da média mundial, que vem sendo utilizada inclusive para a formulação de políticas públicas. A necessidade de pesquisa e desenvolvimento para adaptar o ambiente construído brasileiro para essas alterações no clima é outro diferencial do obra.
O capítulo sobre materiais e componentes, por sua vez, demonstra objetivamente os limites das populares listas e recomendações de “green materials” (“materiais verdes”) e centra os esforços em uma análise sistêmica do setor, com o objetivo de identificar os problemas reais, as demandas de políticas setoriais e as oportunidades para inovação. O capítulo também aborda ferramentas e métricas multidimensionais, sejam de análise do ciclo de vida simplificada para facilitar a quantificação dos impactos ambientais, sejam dos impactos sociais.
Outro ponto abordado, que é normalmente negligenciado por textos técnicos e políticas públicas, é a questão da vida útil dos produtos e edifícios e seu papel na construção sustentável ambiental, social e econômica: construção descartável nunca será sustentável. O tema é atual tanto pelo grande investimento que o país realiza em habitação e infraestrutura, quanto pelo fato da existência de vidas úteis mínimas previstas na norma de Desempenho de Edifícios estar sendo questionada, inclusive por setores governamentais.
Mas é certamente o capítulo que discute as interrelações entre a informalidade e a sustentabilidade social o mais instigante. “Ele revela o que talvez seja o maior dos desafios em um país, a sonegação de impostos e o desrespeito à legislação – algumas vezes apresentada até como dever cívico”, dizem os autores. “Vale não só para a construção, mas também para todos os demais setores. Implícita fica a proposição de que na maioria das vezes é mais relevante escolher o fornecedor do que o produto.”



